De: Rui Valente - "Chamem-nos pessimistas!"
A avaliar pelas recentes declarações dos nossos iminentes "protagonistas", a regionalização não passa de uma bola de ping-pong onde cada qual se vai entretendo a dar algumas raquetadas e cujo único ponto de consenso consiste tacitamente no compromisso entre as partes de nunca terminarem a jogada. Explico-me: com tanta parcimónia para avançar com o tema Regionalização, sai ainda mais reforçada a percepção de que nenhum deles está verdadeiramente interessado na causa.
Deste grupesco tímido de bem intencionados e de mentes aparentemente baralhadas, distingue-se a voz avisada do reitor da Universidade do Porto, Marques dos Santos, com apelos confrangedores À UNIÃO, mas sem que, até hoje, ninguém o tenha levado a sério (já não é a primeira vez que o faz). Uns, dizem que querem o referendo, outros afirmam que não é necessário e outros que nem por isso. E é com toda esta prodigalidade intelectual e política que se germinam os condimentos perfeitos para "cozinhar" na opinião pública a confusão e o receio que poderá mais tarde resultar noutro rotundo NÃO às regiões administrativas. Se não é essa intenção, então é burrice, da mais entranhada e retinta.
Ainda assim, não deixa de ser espantoso como há pessoas, com responsabilidades políticas no passado, a lançar para o ar e para os jornais (no JN de hoje, pag.10) asneiradas como esta: "não defendo a Regionalização, é um disparate total. Só pode vir de quem tem vontade de ocupar lugares".
Vejamos: quem fala assim, é o actual vice-presidente da AEP (Associação Empresarial de Portugal, outrora do Porto...), Couto dos Santos ele mesmo a ocupar um lugar de relevo, mas que não o admite para outros desde que sejam cargos de índole regional. E esta, hem? Depois, e o que é mais surpreendente desta sentenciosa expressão, é não lhe ocorrer sequer a importância de auscultar a voz do povo da região que é quem tem mais legitimidade para se pronunciar sobre a matéria. Para este ex-político (outro com um bom tacho pós-política) o remédio para as gentes do Norte é a resignação ou esperar que esta árvore estéril em que vivemos há 33 anos um dia acabe por frutificar espontaneamente como o mato dos montes. Imagino que este senhor se um dia se perder no caminho para qualquer destino, não procure outros caminhos e se limite a esperar por um milagre só para não fazer disparates.
Caros amigos, é esta a qualidade de homens a quem temos dado a nossa confiança pessoal e política para governar Portugal. Homens sem coragem nem ideias firmes e sem a mínima noção do que é um país. Homens de mente retrógrada que se deslumbram com o Poder, que têm feito da capital do país um monopólio de interesses e que olham para o resto do território com uma falta de respeito próxima do insulto. Eles não querem saber dos jornais, dos blogs e da opinião popular. Nada! Assobiam para o ar e fazem mais do mesmo.
Não auguro portanto nada de sério destes lampejos de inconformismo da parte de actores de teatros passados. Se me enganar, se os actores que outrora puderam e não quiseram fazer nada pela região, estiverem agora francamente redimidos e dispostos a avançar com determinação e sem demagogia para a Regionalização, fica desde já aqui patente o meu pedido de desculpas. Mas algo me diz que não vou precisar de o fazer. Porque, como diz o povo, mudam as moscas...
Rui Valente
Ps- Ah, antes que me preguem qualquer sermão: reafirmo que não tenho da Regionalização uma ideia de perfeccionismo, nem de nada, aliás. Acho apenas que é um caminho que devemos tentar percorrer sem preconceitos divisionistas, com a única certeza de que o que andamos a calcorrear há três décadas é um precipício que nos está a levar à ruína.