De: Rui Encarnação - "A Regionalização"
Nunca pus em causa, ou sequer duvidei, que a gestão e aplicação dos recursos financeiros públicos pode ser melhor conseguida a nível regional, pois que o centralismo da gestão nacional gera perdas inexplicáveis e demonstra, até hoje, uma arrasadora ineficiência.
As ligações da região norte à Galiza são tão evidentes, e naturais, que só me espanta a sua ténue e espartana concretização nas últimas décadas. Contudo, não creio que o discurso anti-lisboa, puro e duro, conduza a qualquer resultado positivo. A contestação ao centralismo, e à lisboetização não se faz com preconceitos mas com factos. É que, contra factos (e o centralismo é um deles), não valem preconceitos, mas, sim, acções, convicções e, especialmente, outros e melhores factos.
Não creio ser necessário uma revolução e um levantamento de armas contra a centralidade alfacinha para demonstrar a mais valia de uma verdadeira regionalização. Necessário era demonstrar, por a+b, que conseguimos gerir melhor os nosso recursos, estar mais próximos das populações, fazer política mais participativa, mais empenhada e, sobretudo, mais certeira na aplicação dos dinheiros e diferente na escolha dos agentes e actores da coisa pública.
Nesta última questão, era fundamental demonstrar-se que, mesmo com luta ideológica, a região norte pauta-se por critérios de competência e capacidade, sem jobs, nem boys. Como fundamental era, demonstrar-se que, aqui, a discussão das coisas políticas, e as coisas políticas, são claras e transparentes, sem ligações, corrupções, interesses ocultos e outras das maleitas que se apontam, e bem, ao aparelho central.
Mas, é exactamente aqui que nos falham os políticos e os protagonistas de semelhante discurso. É que a nossa política é exactamente igual à central. Mais pequenina, mais acanhada e envergonhada, mas igual. Tão igual que chega a parecer parola e saloia, como sempre o parecem as cópias fajutas e pequeninas das grandes realidades.
Mudem-se os políticos e as políticas, faça-se o que se pode fazer, mostre-se que a região é melhor, mais eficiente e produtiva que o Estado central e, certamente, as pessoas não deixarão de apoiar quem encabeçar essa pretensão. O que não podemos é aspirar a essa regionalização com uma classe política que tem o nacional como miragem e aspiração.
Assim, com os actores políticos regionais que temos, especialmente os do Porto, vamos, como se diz nesta tripeira urbe, esperar sentados, a ver se nos cai alguma coisinha do céu...