De: Rui Valente - "Economia e debates"
Sobre a cidade do Porto, é tanta a inépcia, tanta a orfandade, que prefiro não fazer comentários e deixá-los para aqueles que, de boa fé ou por optimismo exacerbado, continuam estoicamente convencidos que a autarquia lhes dá ouvidos. Lamento desapontá-los, mas não dá. Ou se der, será apenas para tentar controlar a "fervura das águas" deste Porto manso, quase irreconhecível para, em caso de ameaça de fogo deitarem mãos aos bombeiros, não vá dar-se um "incêndio"!
A decadência do país acelera e, na cidade do Porto, em particular, é multiplicada várias vezes, mas o lume mantém-se por enquanto brando, com a população estupidamente serena e apática. Tão serena como o país. Um país que se está a habituar com candura à perversão de tarefas e valores. Um país deprimido, mas igualmente inconsciente, que aplaude quem o flagela e que anda muito próximo de legalizar a irresponsabilidade dos seus governantes e, até, de pôr em causa o seu próprio sentido de existir.
De tanto se procurar esvaziar a função do Estado neste país, ao mesmo tempo que se hiper-valoriza o da iniciativa privada, já não se consegue bem perceber qual é o papel reservado aos políticos além daquele que todos conhecemos, que é o da preservação dos seus postos de trabalho (melhor dizendo, dos seus tachos!), isto, claro quando não fazem gazeta ao Parlamento...
Curiosamente, agora não faltam comentadores políticos e políticos comentadores a defender a economia como o salva-vidas justiceiro da pobreza e da exclusão social. Proliferam à velocidade da luz e multiplicam-se como coelhos!
Para tentar ir de encontro a tamanha onda de euforia económica, lancei-me na busca e selecção de um empresário de "peso" da nossa praça e o primeiro que me ocorreu foi Belmiro de Azevedo. Depois, procurei a fórmula mais correcta para fazer a leitura da riqueza gerada por um dos homens mais dinâmicos da sociedade civil e tive algumas dificuldades. É que, tendo como certa a ideia de que Belmiro de Azevedo paga muito bem aos seus quadros superiores, de cuja competência não me atrevo a duvidar, não me pareceu honesto avaliar o nível médio dos rendimentos dos seus funcionários baseado nos "comandos", mas antes calcular com quanto teriam de viver os seus empregados menos qualificados (como "caixas" de supermercados, funcionários Optimus, etc.) que são a grande maioria, e não tardei a reconhecer que eram pessimamente mal pagos. E é precisamente pelas classes mais baixas, pelo seu poder de compra, que se pode apreciar o nível de vida de um país. Daí, não ser disparatado concluir que um empresário pode ser eficaz a administrar algarismos e a produzir riqueza, mas não é forçosamente justo e competente a distribuí-la! Berlmiro de Azevedo é apenas um entre muitos! Será este o modelo de economia que vai salvar o país?
Mas, esta realidade é tanto mais grave, quanto os políticos, falhos de ideias e de propósitos, tendem a auto-desresponsabilizar-se dos seus deveres e a passarem cada vez mais tempo em debates televisivos remunerados, filosofando sobre os problemas da humanidade com aparente sapiência ao mesmo tempo que engordam o seu pecúlio pessoal. A população assiste e aplaude.
D. Afonso Henriques: por que raio quiseste armar-te em herói?
Rui Valente