De: JA Rio Fernandes - "O metro e as birras"
Ainda alguns diziam que o metro não sairia do papel (como o actual presidente da empresa, Valentim Loureiro) e já se discutia se a ligação Matosinhos – Porto se fazia por Senhora da Hora ou pela Boavista. Feita a opção a Norte, como defendiam entre outros Narciso Miranda e Rui Rio, vêm agora os mesmos (e alguns poucos mais) dizer que também querem que ele passe pela Boavista. Muito portuguesmente, a ligação mais a Norte ou mais a Sul, transforma-se agora em ligação a Norte e a Sul!
Entretanto, enquanto Vila Nova de Gaia ia esperando por uma ponte e Gondomar ia desesperando por ver os carris chegar, fizeram do metro um comboio que chegou a Vila do Conde e Póvoa, acrescentaram, sem estar inicialmente prevista, uma linha para a Maia desde a linha da Póvoa, e agora, surpresa das surpresas, não é que está “entupido” o canal de Senhora da Hora à Boavista?!
Solução da formidável gestão (recusando sequer admitir que exista outra possibilidade): desenterrar a ideia da utilização da Avenida da Boavista, mesmo que seja uma incompreensível concorrente à ligação Boavista – Matosinhos que já existe, mesmo que estudos sérios revelem que está condenada a dar elevados prejuízos, mesmo que estrague a maior e uma das melhores avenida da metrópole, mesmo que a travessia do Parque da Cidade seja tudo menos desejável.
Eis que, afinal, surge uma outra alternativa que ninguém consegue dizer que não é a melhor, nem sequer Rui Rio, Narciso Miranda, ou Oliveira Marques: ligar Senhora da Hora ao Hospital de São João. Conclusão, uma vez mais, dos boavisto-dependentes: no lugar de esta ou aquela, queremos esta e aquela.
Entretanto, do “outro lado” da metrópole, Gondomar continua à espera por um pequeno prolongamento do Dragão a Rio Tinto, e pela ligação ao Porto da única sede municipal da metrópole que não tem caminho-de-ferro suburbano nem urbano (e que Valentim, Oliveira Marques e outros há poucos anos diziam ser impossível de conseguir sem ser por Rio Tinto, mas que agora afinal e finalmente já deixou de ser impossível…)
É certo que a cidade estava tão carente de bons transportes públicos que até um metro mal concebido é um sucesso. E, naturalmente, que ainda bem que temos metro. Ainda bem que Fernando Gomes e Viera de Carvalho encontraram no Governo Guterres sensibilidade para o projecto. O que é lamentável é que não tenha sido tudo conduzido com mais bom-senso e, sobretudo, que, agora, a vontade de quezilar e as “pequenas necessidades” de tesouraria sejam tão fortes que tudo é secundarizado à Boavista, seja pela actual gestão da Metro – que anda desaparecida neste processo –, seja especialmente pela presidência da Junta Metropolitana (que acumula com a da Câmara do Porto), onde parece haver uma dívida do asfalto para os carros antigos e um imbróglio imobiliário para resolver na frente do Parque da Cidade…
Com o jeitinho para a quezília que Rui Rio tem, estou mesmo a ver que a defesa a todo o transe do disparate da Boavista e a incapacidade de negociar os reais interesses do Porto e da Área Metropolitana, se vai (outra vez) transformar em mais uma oportunidade do homem brilhar – tal como no túnel de Ceuta –, como vitima da defesa dos nossos superiores e indiscutíveis interesses, face ao centralismo opressor. E como tão bem sabemos a falta que faz quem soubesse, de facto, defender os interesses da metrópole…
Entretanto, a cidade acinzenta-se pela falta de visão e de ambição de quem a dirige… Haja paciência! E esperança de dias melhores…
Rio Fernandes