De: António Alves - "O Crime!"
Estou cada vez mais convencido que a elefantíase centralista levará a Ota por diante. A imposição das verdades oficiais é cada vez mais evidente e as vozes incómodas são totalmente ostracizadas. Já ninguém põe sequer em questão se o novo aeroporto é necessário ou não e, considerando que é, se existem alternativas à solução proposta. É ponto assente: todo aquele que se atrever a pôr isso em questão é logo tratado como um idiota. Falta pouco para começarem a apelidar os contestatários de traidores e amigos dos espanhóis. Agora a discussão está reduzida ao local. É uma simples guerra entre adeptos pró Alentejo contra os pró Região Oeste.
Já no tempo de Marcelo Caetano diziam que a Portela estava perto da saturação. No tempo do Cravinho diziam que em 2005 o aeroporto de Lisboa estaria saturado. Tudo falso. A Portela lá continua e ainda longe da ruptura. Nada disto é novidade. As corporações de interesses instaladas à sombra do governo de Lisboa são useiras e vezeiras em usar da mentira mais descarada para atingirem os seus interesses. E mesmo que esteja perto da saturação pergunta-se: não se pode redistribuir o tráfego por Porto e Faro? Se os nortenhos e algarvios podem ir a Lisboa apanhar um avião os habitantes da região de Lisboa não podem deslocar-se a outros locais para embarcarem para os seus destinos? Têm por acaso prerrogativas especiais em relação aos restantes cidadãos? Se levarem a sério a modernização da Linha do Norte, e explorarem em toda a sua capacidade os comboios pendulares, o aeroporto do Porto fica a escassas duas horas do centro de Lisboa. É ou não é verdade que a capacidade aeroportuária instalada em Portugal como um todo é até excedentária?
Portugal é um país extremamente desequilibrado a nível de desenvolvimento e produção de riqueza. Este país está cada vez mais dividido em duas regiões: Grande Lisboa, com níveis de riqueza medianos a nível europeu, e quase tudo o resto cada vez mais empobrecido. Muitas regiões têm mesmo níveis de rendimento quase terceiro-mundista. No entanto, há quem se ache no direito de construir uma mega cidade aeroportuária de luxo para -imagine-se!- competir com Madrid. Eu já nem sequer questiono a necessidade de competir com Madrid neste campo porque isso que me parece de um irrealismo notável e inútil para os interesses nacionais.O que ponho em causa é a capacidade para tal desiderato. Vamos competir com que tráfego? O tráfego do Brasil contra o tráfego do resto da América Latina, e dos latinos que vivem a norte, que é dominado pelos espanhóis? Fazer um aeroporto para a TAP, uma empresa comercial que em breve será privatizada, desenvolver a sua estratégia brasileira? A TAP é uma empresa que em breve será pertença de donos privados (e mesmo que não fosse), e como tal, se quer um aeroporto novo que o pague do seu próprio bolso (se tiver dinheiro para isso) e não à minha custa nem do povo da minha região e do meu país que atravessa cada vez mais dificuldades. O sorvedouro de dinheiro que esta obra representará não deixará margem para qualquer sonho de desenvolvimento do resto do território.
Quando este crime económico estiver consumado, o aeroporto nacional (sim nacional porque é disso mesmo que se trata: um aeroporto para todo o país) anulará os restantes. Não terão condições de sobrevivência. Serão totalmente estrangulados de modo artificial, o seu tráfego será desviado e a sua capacidade competitiva sabotada para que não façam sombra ao gigante. Os interesses em volta da Ota não permitirão que mais alguém em Portugal lhes retire a mínima parte de mercado.
A morte do aeroporto do Porto como grande aeroporto internacional será um desastre para a economia da Região Norte. Ficaremos mais longe dos centros de decisão e investimento internacionais. Ficaremos mais caros e mais fora dos circuitos de fluxos internacionais de capitais e pessoas. Ficaremos ainda mais pobres.
Os deputados do PS eleitos por todo o Norte de Portugal que se mantêm calados perante este verdadeiro crime lesa região e lesa pátria são coniventes com este crime. São traidores àqueles que lhe deram o seu voto e ao povo das suas regiões de origem. Não nos esqueceremos deles. A memória não pode continuar a ser curta. As responsabilidades têm que começar a ser cobradas.
António Alves