De: Rui Valente - "61 cêntimos, o preço da afronta!"
Os exemplos infelizmente não faltam, mas se necessário fosse apresentar um só para testemunhar a que ponto chega o ridículo da "acção" governamental (que não é de agora), penso que o resumo da notícia que abaixo transcrevo (extraída do JN de hoje) é bastante elucidativa.
A notícia fala-nos de um reformado de 67 anos que solicitou ajuda à Segurança Social para a compra de uns óculos graduados. O homem esperou quase um ano para receber 61 cêntimos em cheque traçado! Isto, sublinhe-se, para a compra de umas lentes no valor de 100 euros (das mais baratas)!
Já todos sabemos que, nesta terra de sábios e de governantes sensatos, ter problemas com os olhos ou com os dentes foge ao âmbito da saúde (vá-se lá saber porquê) para efeitos de comparticipações do Estado, embora o discurso passe a ser outro exactamente oposto desde o momento em que entramos no consultório do dentista privado. Como sabem, não se cansam de nos avisar da importância em tratar dos dentes e dos riscos que corremos em contrair outras doenças se não o fizermos atempadamente... Por que será?
O problema é que os partidos que deviam funcionar como veículos legais das carências e ambições públicas, para as resolver, nunca assumem nem interiorizam verdadeiramente essa missão e, assim que se sentam na cadeira do poder, vai de sacar depressa dos galões da autoridade para melhor orientarem a vida pessoal e da família "partidária". Esta, tem sido sempre a regra. Não fora assim, não estaríamos habituados como estamos a observar com despudorada frequência esses cavalheiros à frente de grandes empresas, como é o caso recente de Pires de Lima (filho) agora na administração da UNICER (uma empresa do Norte). Pessoalmente, até nem teria nada contra, se o facto funcionasse como uma espécie de prémio para aqueles que na política governativa se houvessem destacado por uma actuação altamente meritória para o país, mas não é o caso. O que vemos é, quer governem bem (e sempre governaram mal) ou mal, os políticos são recompensados apenas porque o são, ou foram, e isto é que está mal.
É por todos estes acontecimentos que estão mesmo à frente do nosso nariz no dia a dia, que não consigo acreditar minimamente na classe. Quando ouço Marques Mendes a dizer aquilo que ele sabe ser o que o povo quer ouvir, com discursos gastos e sem ideias, acho que já poucos portugueses terão dificuldade em imaginá-lo um dia no poder (salvo seja) a dizer e sobretudo a fazer calmamente o contrário do que agora diz.
Rui Valente
PS-Chamo a atenção para a leitura do artigo de Paulo Ferreira do JN (pág. 20) que aborda muito bem um assunto já aqui discutido.