De: António Alves - "Regionalização, partidos e outras contas"
Cara Cristina
A minha maior preocupação é mesmo o excesso de partidos a defender a Regionalização que poderá existir em 2009. Principalmente se um desses partidos for o partido do senhor Renato Sampaio, grande chefe do saco de gatos que é o PS Porto e yes man de Sócrates, que assina de cruz tudo o que o chefe lhe diz para assinar, mesmo aquilo que representa grave prejuízo para a região pela qual ele foi eleito.
Outro partido que me arrepia, e que também provavelmente irá defender a Regionalização, é aquele de que faz parte um tal de Jorge Neto, deputado eleito pelo Porto, que andou por aí a dizer-se presidente duma suposta associação de defesa dos pequenos accionistas da PT e que acabou a representar apenas um grande accionista ligado ao BES. Este deputado (?) do Porto votou na Assembleia Geral da PT, em aliança com o senhor Armando Vara, representante desse magno instrumento financeiro do benfiquismo... perdão, centralismo, mais conhecido por Caixa Geral de Depósitos, contra a desblindagem dos estatutos da empresa de comunicações. A sua acção prejudicou objectiva e deliberadamente um grupo económico que mantém sede no distrito que ele supostamente devia defender e é um dos maiores empregadores e produtor de riqueza, tanto regional como nacional. Não consta, entre os entendidos em matéria económica, que da acção deste deputado tenha resultado superior benefício para os interesses nacionais que se sobrepusesse aos interesses duma empresa portuguesa com sede no Porto. Não quero aqui valorizar o papel da SONAE nem efectuar qualquer julgamento positivo sobre a bondade das suas intenções, até porque não tenho nem a competência nem os dados totais que me permitam efectuar tal julgamento, mas não acham estranho que um deputado do Porto proceda desta forma? A Cristina está disposta a confiar a Regionalização a gente desta?
José Sócrates, uma espécie de Renato Sampaio da Guarda (leia-se aparelhista militante) que chegou a primeiro ministro sem nunca na realidade ter trabalhado na vida (dizem os jornais que deu algumas aulas de matemática e teve um emprego na câmara lá da terra, sendo depois guindado a deputado e político profissional) é neste momento, embora paradoxalmente, o maior aliado da Regionalização. A sua ignorância acerca do país, e a ânsia em deixar obras de regime que inscrevam o seu nome na história, fazem com que despreze aquela que é a Região mais populosa, a mais jovem, a única que ainda cresce naturalmente e a que mais contribui para o equilíbrio da Balança de Transacções Correntes, por ser a mais exportadora e por ser a única onde o sector secundário se sobrepõe aos outros sectores da economia, ao mesmo tempo que favorece, com o despejar de dinheiro em investimentos faraónicos, aquela região - Lisboa - que se mantém em economia protegida. Economia protegida pelo enorme volume de salários pagos aos mais de 200 mil funcionários públicos que lá vivem (concentrando-se nestes os de categoria profissional e salário mais elevados do país), aos quais temos que somar as largas dezenas de milhares de salários também lá pagos pelas empresas públicas e para-públicas como a EDP, a GALP, a CGD, a PT, a TAP, a CP, a REFER e outras, que embora obtenham receitas em todo o país é lá que também concentram a maioria dos seus funcionários, particularmente os quadros superiores, as chefias médias e cada vez mais até as simples chefias operacionais, porque neste tipo de empresas hoje em dia quase tudo o que mexe é drenado para Lisboa, e é também nesta região de Lisboa onde o Estado, que gasta metade da riqueza nacional, faz a maioria das suas despesas. Esta política só fará com que o descontentamento por aqui seja cada vez maior, as pessoas comecem a aperceber-se que para elas o desemprego é um facto inevitável quando a crise chega, que os seus rendimentos baixam porque as forças da globalização retiraram competividade à sua indústria e que estranhamente, ainda por cima, sejam elas que tenham que pagar as SCUTS e vejam o governo fazer chantagem e adiar os investimentos necessários à expansão do sistema de metro do Porto ao mesmo tempo que em Lisboa a empresa de metro local consegue provocar mais de 400 mil euros de prejuízo diário e se gasta à tripa forra para fazer um túnel literalmente a flutuar no lodo dos fundos do Tejo. Por enquanto as sondagens parecem ser favoráveis, mas um dia, sem qualquer aviso, as pessoas fartam-se e as coisas explodem.
O Rendimento Disponível (RD) per capita da Região Norte foi sempre inferior ao seu Rendimento Primário (RP) per capita até 2003. Isto quer dizer que, apesar do seu empobrecimento relativo, a Região Norte tem sido contribuinte líquido para o todo nacional. Só em 2003 e 2004 é que o saldo é zero - isto é, feitas as transferências de distribuição não ganhamos nem perdemos. Dados posteriores ainda não são conhecidos. O que acabo aqui de afirmar é confirmado pelo próprio INE quando neste documento afirma o seguinte:
«as transferências de distribuição, na sua maioria da responsabilidade das Administrações Públicas, beneficiaram as regiões do Alentejo e do Centro. Com efeito, as famílias destas regiões viram o Rendimento Disponível por habitante superar o rendimento gerado pela sua participação no processo produtivo e pelos rendimentos de propriedade (recebidos menos pagos). As famílias das restantes regiões – Norte, Lisboa, Algarve e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira – não beneficiaram (em termos líquidos) com a acção redistributiva das transferências correntes»
Este parágrafo derruba também o mito que sustenta que as regiões autónomas vivem à custa do continente.
Um outro dado elucidativo dos enormes desequilíbrios regionais é a diferença entre as duas sub-regiões que constituem a Região de Lisboa. Em 2004, últimos dados divulgados, a Grande Lisboa obteve um PIB per capita de 22 300 euros, em contrapartida, a Península de Setúbal (Barreiro, Almada, Seixal, Montijo, Palmela, Setúbal) obteve um PIB per capita de 10 500 euros. Um valor inferior, por exemplo, ao do Vale do Ave que obteve em 2004 um PIB per capita de 10 600 euros. Apesar de tudo os "trapos" da indústria têxtil ainda valem mais que a Autoeuropa. Não obtêm é o interesse que os governos demonstram pelo investimento alemão. Estão longe, têm má imprensa (reconheça-se que muitas vezes têm largas culpas para que isso aconteça) e não votam no BE. Azares!
António Alves