De: Pedro Lessa - "Jornadas"
Numa análise rápida à Jornada de ontem, poderei constatar que nem tudo estará irremediavelmente perdido, no que à reabilitação da Baixa diz respeito. Comungo, assim, do optimismo do orador, Dr. Francisco Rocha Antunes, que aproveito para saudar e que tive oportunidade de conhecer pessoalmente, confirmando assim a estima que, por várias vezes aqui no Baixa, lhe tinha transmitido.
Parece-me no entanto que, em traços gerais, se pode dividir este subtema, o do negócio da reabilitação urbana, dentro do grande tema que é a Reabilitação Urbana, em dois grandes pólos de discussão. O primeiro, e para mim talvez o essencial, é a Promoção Imobiliária, seguindo-se consequentemente, o tipo de operação urbana a realizar, os famosos três Rs, Restaurar, Reabilitar e Renovar.
Admito que um sem o outro, todo o negócio da reabilitação (e qualquer outro negócio), fica inquinado à nascença. Num país onde estamos habituados a que toda a gente dê opiniões, interfira, bloqueie, critique, etc etc, sem ter o minimo de formação na área, já é tempo de se iniciar um processo desta natureza com todos os parâmetros e factores perfeitamente definidos. Como parece que, felizmente, todos os agentes envolvidos neste tipo de operações se começam a mentalizar que sem um promotor competente a montar toda a operação, a confusão instalar-se-á, é de todo o interesse, portanto, que cada um saiba a função a que ficará obrigado, sem o mínimo intuito de extravasar as suas competências. Tenhamos a noção, portanto, que o promotor promove, a ele compete toda a coordenação da operação em todas as suas vertentes, aos projectistas os projectos, aos construtores a construção e aos comerciais as vendas. Se continuarmos a insistir nos procedimentos "com contas de merceeiro", iremos continuar a ter construções medíocres a preços exorbitantemente caros, preços estes que mais não são do que o reflexo de mau planeamento e erros de construção.
Por outro lado, quanto ao segundo pólo de discussão, aqui a questão torna-se mais complexa porque se baseia em condicionantes mais difíceis de controlar e implicam pareceres de entidades terceiras. Se o edifício em questão tem valor patrimonial, se os usos existentes se adequam, se infraestruturalmente o edifício está obsoleto, se eventualmente surgirem vestígios arqueológicos, o cumprimento regulamentar da pretensão, a celeridade das entidades fiscalizadoras, etc etc. Torna-se evidente então, e aqui surge a interdisciplinaridade de que falei atrás, a dependência para com o promotor. Se toda a operação for competentemente montada pelo promotor, todo este "trabalho de casa" já estará feito, abreviando assim muitos procedimentos desestabilizadores e atrasadores do faseamento programado de toda a operação.
Para concluir, caro Tiago, quando se abordou a temática do bidet, penso eu que não era a funcionalidade que a peça ainda tem para algumas pessoas que se ridicularizou mas sim a obrigatoriedade de o incluir num projecto, para pessoas que eventualmente não fazem uso dele, tão somente isto. Ter de se cumprir regulamentos obtusos e quadrados. E aqui entra o bom senso de que também se falou. Se um utente da casa que está a construir para si não faz uso do bidet, por que carga de água é obrigado a colocá-lo?
Cumprimentos,
Pedro Santos Lessa.
pedrolessa@a2mais.com
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Nota de TAF: quanto ao bidé, completamente de acordo. :-)