De: TAF - "Um dos mitos"
Um dos mitos da Reabilitação, e aliás dos negócios em geral, é: “um bom negócio encontra sempre investidores”. Errado. Se assim fosse a reabilitação do Porto há muito que tinha sido feita! O problema é provar que uma determinada oportunidade é um bom negócio. Em grande parte das situações, se os estudos forem sérios, isso é impossível.
No caso concreto da reabilitação faz sentido, por exemplo, tentar preparar um projecto completo de arquitectura e obter o respectivo licenciamento antes de adquirido o imóvel (ou imóveis) aos quais se destina? Quem paga o investimento que isso implica? Quem está disposto a arriscar esperar vários meses pela conclusão do processo sem ter assegurada a compra, podendo entretanto ver a oportunidade fugir? E, sem um projecto garantido, com que base se faz um plano de negócios convencional?
Mais: quanto custa um estudo de mercado, rigoroso e credível, para estimar a procura para uma oferta prevista? Pior: numa situação em que ainda não há propriamente um mercado a funcionar, que confiança atribuir a esses estudos?
Os negócios não são uma ciência exacta. Têm muito de feeling, de conhecimento não quantificável mas válido. Há ocasiões em que se verifica ser possível fazer contas detalhadas – esses casos são bons para recurso a crédito bancário ou para parcerias com investidores que possuam uma perspectiva eminentemente financeira, sem necessidade de conhecimento pormenorizado do ambiente em que decorre o negócio. Mas, e os outros casos?
A reabilitação da Baixa do Porto, nesta fase, é para quem sabe. Para quem conhece o meio, para quem consegue preparar uma oferta adequada à procura que sabe existir, para quem antevê o futuro da cidade e sabe contribuir para o concretizar, para quem gosta do Porto e está disposto a apostar o seu tempo e/ou o seu dinheiro antes dos outros - não por altruísmo, mas por apurado sentido de negócio.