De: JA Rio Fernandes - "Comércio à deriva: obras sempre, atractividade pouca"

Submetido por taf em Quarta, 2006-04-19 18:18

As causas são muitas para o estado a que a Baixa chegou…

E os comerciantes são, na sua grande maioria e sobretudo na instituição que os representa, mais parte do problema que da sua solução.

Claro que não é tão pouco importante como isso que tenham sido autorizadas de forma avulsa e em plena área central da grande metrópole (ou seja, na imediata periferia do município do Porto) grandes superfícies de enorme dimensão (mesmo à escala europeia), com bons projectos e vantagens as mais diversas, com destaque para o estacionamento grátis e o horário alargado (o que não é fácil conseguir no pequeno comércio e em áreas antigas da cidade);

Claro que os consumidores se deslumbraram – compreensivelmente – com as vantagens da concentração territorial da oferta e da sua articulação com a restauração e lazer, associado ao conforto e liberdade de circulação no interior das lojas, com acesso directo ao produto;

Claro que a diversificação das formas comerciais (da feira de Vandoma ao comércio electrónico) não facilitaram as coisas ao comércio pré-existente,

Mas:

É também evidente que os comerciantes instalados no centro da cidade – com grandes responsabilidades para a actual direcção da associação que os representa – acordaram tarde e mal para o problema e que a Câmara quando reivindicou 1 milhão para a Associação de Comerciantes (que é feito desse dinheiro do Amorim?) e prometeu centrar os esforços na revitalização da Baixa, esqueceu que só uma política de metrópole pode inverter o processo, esqueceu que a revitalização não vai lá só com a Metro a despejar dinheiro para pretensas requalificações do espaço público e esqueceu que o que faz falta na Baixa não é exactamente o mesmo que faz falta no Centro Histórico Património da Humanidade, até porque na Baixa nunca a habitação foi muito importante…

Que lástima que se tenha perdido tanto tempo: pensar que existiam milhões de contos disponíveis para apoiar a modernização do comércio em 2000 e que a oposição da Dª Laura Rodrigues (que nunca assinou o protocolo com a Direcção Geral do Comércio e a Sociedade Porto 2001) e os conflitos que ela (e através dela outros, tudo leva a crer) quiseram criar tenham impedido o que já então era tão necessário…

Fique, apesar de tudo, uma nota de esperança e o aplauso para a capacidade empreendedora de alguns corajosos e criativos que têm apostado em formatos interessantes (em Mouzinho, na Nova da Alfândega, no Almada, no Infante,…), na expectativa de que, tal como aconteceu para o centro histórico, talvez que a valorização da Baixa pelos turistas nos leve também a nós portuenses a revalorizar a Baixa e a aí mais vezes passarmos uma parte do nosso tempo, no lazer, nas compras, no encontro, reinventando e prolongando no tempo o “velho” centro da cidade, como Europa fora os nossos vizinhos espanhóis, franceses ou alemães e suíços tão bem sabem fazer.

Para isso não bastam contudo acções de propaganda e declarações políticas que se sabe muito bem aceites. É preciso acarinhar quem quer investir no centro e criar condições para que a metrópole comercial não prossiga o seu caminho desregulado, aprendendo com outros (no horário como no licenciamento de grandes espaços comerciais). E é preciso que os comerciantes que estão no centro acreditem nas suas capacidades e não estejam apenas à espera do trespasse para mais uma “loja de chineses”!

Rio Fernandes