De: Rui Moreira - "Conhecendo o que hoje se conhece"
Caro José Silva
Fica pois esclarecida a questão do Burgo...
Quanto à regionalização:
- - Foi exactamente assim que eu votei e que na altura exprimi o meu voto, em conjunto com Diogo Feyo e Álvaro Braga (Júnior) tendo mesmo gravado um tempo de antena para a televisão. Mas é disso mesmo que me arrependo, porque essa questão das fronteiras, que deixámos que poluísse o debate, contribuiu para o NÃO.
- - O mapa era, indiscutivelmente, mau. E pareceu-me sempre que quem o fez eram falsos adeptos da regionalização. Mas se o SIM tivesse ganho, talvez pudéssemos depois ter alterado o mapa, quem sabe... E entre o mau mapa e a não regionalização, estou hoje certo de que a primeira opção era menos grave. É essa a fonte do meu arrependimento.
- - Nessa altura, contudo, eu não tinha, como muito bem sabe, qualquer função na Associação Comercial do Porto. Fui director entre 1999 e 2001, ano em que fui eleito Presidente. Até então, era entendimento da Associação que essa era uma questão política pelo que a instituição não se devia pronunciar, mas apenas apresentar os argumentos pró e contra, tanto mais que na direcção havia ao que sei partidários do SIM e partidários do NÃO.
- - Mas, tantos anos passados, não me parece relevante sequer avaliar essa situação, até porque nesse tempo a voz da Associação Comercial era porventura menos ouvida, em grande parte porque o anterior Presidente entendia que a instituição deveria concentrar as suas atenções em questões previamente definidas e consensuais entre os associados, não dispersando a sua estratégia. Era uma forma de estar coerente e diferente, não sei se melhor ou pior, esse juízo deixo-o aos outros. O que sei é o silêncio da Associação Comercial do Porto não foi crucial. E, quanto à minha posição pública de então, recordo-lhe que era então um total desconhecido. Por isso, não me parece que se possa dizer que na altura não usei o poder que tinha, porque não o tinha.
Permita-me, ainda assim, que faça um reparo ao seu comentário, e que reponha a verdade histórica. Os que então estavam no poder, e que diziam defender o SIM, prometeram na noite do referendo que tudo fariam, pelo menos, para garantir que iria ser acelerado o processo de descentralização, que este era possível sem regionalização. Infelizmente, o resultado prático é conhecido. O referendo foi entendido como um plebiscito, como um SIM ao centralismo. Essa pergunta é que, de facto, não estava no referendo. E, meu caro, foram esses mesmos que então apelaram ao SIM à regionalização e prometeram a descentralização, (e muitos deles estão agora no poder e no Governo...) que não cumpriram as suas promessas.
Por fim, e quanto à Ota, fará justiça que, já antes do meu tempo, a ACP apresentara em posição pública uma forte crítica a esse projecto. E, sabe também por certo, que desde então nunca nos calamos nem desistimos. Continuo, aliás, a acreditar que ainda vale a pena lutar.