De: Lino Cabral - "Norte Nome de Portugal"
Fragmento de um texto do Miguel Esteves Cardoso publicado em tempos na defunta revista Kapa, encontrado aqui:
"Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país. Não haja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte é onde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte. Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular. É esta a verdade. Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte."
Aturámos o caótico fim da monarquia, o desatino da primeira república, a mão pesada salazarista, faltava-nos o desprezo do poder democrático centralista!
Mas afinal o que é Portugal, hoje? O que somos?
Muito pouco. Vivemos assentes nas ruínas do estado centralizado que alimenta o parasitismo. Não temos um rumo, uma estrela, um bandeira que possamos adoptar, não sabemos se navegar é preciso…
E o Norte?
Temos tudo menos o … norte! Precisamos de orientação para mudarmos o rumo. Temos argumentos, recursos, cultura, história, para assumirmos o futuro do Norte. Somos trabalhadores empreendedores, sabemos planear e estruturar indústrias, dominamos a arte do comércio, vivemos numa terra abençoada por Deus e habitada por Bichos! Falta-nos o poder.
Como diria Lenine acho eu, o poder não se dá, conquista-se. Portanto a estratégia da região será uma estratégia de conquista, uma estratégia para uma geração. Precisamos de espevitar o ego comunitário, de consolidar a cooperação e a solidariedade entre as "tribos" do Norte. Precisamos de abandonar de uma vez por todas as barricadas mentais; lutemos todos contra este espírito pequenino e aldeão que nos impede de pensar e agir.
Um nortista acossado,
Lino Cabral