De: Rui Cunha - "Verdadeira Cultura"
Tenho seguido há muito tempo o seu blog. Depois de uma época muito positiva, a inicial, infelizmente tenho verificado que nos últimos meses se transformou numa espécie de "muro das lamentações" sobre a nossa cidade. Tenho pena, pois não há muitos blogs que tenham tantas capacidades como o seu para espalhar as nossas virtudes e amor pelo Porto.
Em especial a forma como sistematicamente atacam o Dr. Rui Rio parece por vezes "patológica". Claro que ele tem decisões positivas e negativas, como todos nós, mas o que tenho lido é sempre negativo. Entendo que não tem existido isenção dos diversos intervenientes.
Quanto ao caso "Rivoli" considero que a decisão tomada por RR foi acertada e concorre para o bem comum. A propósito junto o texto do editorial de ontem do Público, em que o seu director, de forma muito esclarecida, a este caso se refere. É minha convicção que a maioria dos cidadãos do Porto têm a mesma opinião.
Rui Cunha
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PUBLICO DE 14/1/2007
Há quem não acredite, mas ele existe
14.01.2007, editorial José Manuel Fernandes
Quem espera quatro horas, ao frio, noite dentro, para ver uma exposição de pintura? Os portugueses.
Quem esgota os espectáculos de qualidade, da ópera à dança, que passam pelas nossas grandes cidades? Os portugueses.
Quem transformava um longo fim-de-semana numa maratona familiar em que se saltitava de sala de concerto em sala de concerto no Centro Cultural de Belém para não perder pitada da defunta Festa da Música? Ainda os portugueses.
Quem torna num sucesso, esgotando sessões, um festival de documentários? De novo os portugueses.
É costume dizer que os portugueses só apreciam telenovelas e jornais desportivos. Ou que só se mobilizam pela selecção. Ou ainda que são incapazes de apreciar uma obra de vanguarda. É mentira.
O que nos últimos dias se passou na Fundação Gulbenkian com a exposição retrospectiva de Amadeo de Souza-Cardoso (ou o que se está a passar em Amarante no museu com o seu nome) mostra que não é necessário ir a Madrid, a Paris ou a Londres para enfrentar horas de espera para poder entrar para uma grande exposição. Venha ela a Lisboa ou ao Porto, e teremos casas cheias. E nem sequer é necessário que o artista exposto seja "fácil", ou um "clássico". Basta haver uma política coerente de programação e promoção, como a que tem existido, felizmente desde a sua inauguração, na Fundação de Serralves, e exposições como In the Rough: Imagens da natureza através dos tempos na Colecção Boijmans ou Francis Bacon atraem facilmente mais de cem mil visitantes.
Por outras palavras: o nosso problema não é "criar públicos para a cultura" - o que está por demonstrar ser fácil de fazer distribuindo subsídios para aumentar a chamada "oferta cultural de qualidade"; o nosso problema é responder à solicitação dos públicos que existem e que só não aparecem porque muito do que lhes é oferecido pura e simplesmente não tem qualidade. Ou, então, é-lhes oferecido com a sobranceria de quem entende que é um "criador" e, como tal, é-lhe indiferente ter ou não público desde que tenha dinheiro no banco ao fim do mês.
A quantidade de dinheiro que se gasta neste país a manter instalações culturais faraónicas e vazias dava para manter três ou quatro eventos como a Festa da Música - não daria era para satisfazer bairrismos e clientelas. Ou para mostrar "obra feita". Contudo, protestamos menos pelo desaparecimento de uma Festa da Música (quantos miúdos tiveram naqueles dias, nestes últimos, o seu baptismo da grande música? quantos se começaram a interessar pelo que desprezavam?) do que por um teatro municipal do Porto deixar de acolher espectáculos para 30 pessoas quando tem lugar para centenas.
Uma só exposição como a sobre Amadeo faz mais pela educação do gosto dos portugueses do que milhares de microeventos de "criadores" que não estão dispostos a correr os riscos e a trilhar os caminhos difíceis que Amadeo percorreu antes de morrer - e morreu sem ser famoso ou rico, como morreram Van Gogh ou Pessoa. Mas uma exposição como aquelas só na Gulbenkian. Como só com o modelo de gestão de Serralves (e, esperemos, da Casa da Música) é possível ter coerência na acção e prolongar no tempo essa coerência. Os frutos colhem-se depois.