De: Luís de Sousa - "Postiços na Baixa"
Para aqueles que agora ficaram espantados com a colocação daqueles bancos na Avenida dos Aliados, eu devo dizer que aquela era sem margem de dúvida a solução natural que se esperava depois do restyle sofrido pela sala de visitas da nossa cidade.
Digamos que depois daqueles quiosques, de desenho manhoso que deve ter sido importado de uma qualquer cidade oitocentista do sul da Europa e da colocação das réplicas dos antigos candeeiros que proliferavam pelo Porto quando a electricidade ainda não era o combustível que os alimentava, o passo que se seguiria era naturalmente a colocação do típico banco de jardim de ripados verdes.
Dentro da normalidade do processo de colocação dos bancos tenho três perguntas a fazer. Primeiro, para quê bancos de jardim se não há jardim? Segundo porquê verdes? Não ficariam melhor em vermelho para condizer com as cabinas telefónicas londrinas que equipam a avenida? E, por último, para que virar os bancos para a Câmara? Será por ela ter também um desenho postiço para a sua época, altura em que Gropius projectava a Bauhaus de Dessau, Le Corbusier a Villa Savoye e Mies van der Rohe o Pavilhão de Barcelona?
No caso do edifício da Câmara há que dar um desconto pois no primeiro quarto do século XX o Porto era com certeza uma cidade mais isolada do que é hoje e não tinha ainda a Dream Team Siza Vieira / Souto Moura para comandar o seu projecto.
Na Avenida dos Aliados do século XXI a situação é diferente. O Porto perde um postiço, que era a calçada e que eram os jardins, para ganhar outro onde o desenho revivalista do seu mobiliário tenta museografar mais uma zona da cidade que, devido à sua localização estratégica e pela sua enorme carga simbólica, deveria ter uma linguagem mais do seu tempo que servisse de âncora ao normal desenvolvimento arquitectónico de uma cidade que congelou a sua imagem e a sua tipologia arquitectónica durante os já distantes séculos XVIII e XIX.
Cumprimentos
Luís de Sousa
Designuviar