De: Hélder Sousa - "Quadras de Natal"
Quando comecei a frequentar este blogue achei que esta era uma boa forma de participação cívica e um bom meio para discutir e apresentar ideias sobre e para a cidade. Depois deixei de pensar assim pelas seguintes razões:
- 1. Os pressupostos que estão na base das maior parte das posições, ideias e discussões sobre a reabilitação e vivências urbanas e das propostas para melhorar a habitabilidade da cidade não me parecem os mais correctos e são seguramente diferentes dos meus.
- 2. Sinto da maior parte dos participantes deste blogue um esforço para os consensos e um sentimento de neutralidade em relação aos assuntos e em relação à Câmara do Porto. Ora, para mim, os consensos são inimigos da evolução e das mudanças e a neutralidade só favorece o que existe (sejam ideias, sejam políticas, sejam actividades várias) e dificulta a emergência de novos caminhos e novas opções. Quando damos o benefício da dúvida a atitudes e políticas camarárias, p. ex. discordando dos métodos mas achando bem os princípios, estamos a caucionar erros graves que vão trazer grande prejuízo à cidade num futuro próximo.
- 3. Parece-me ainda que muitos dos participantes estão demasiado comprometidos ou com investimentos, ou mesmo profissionalmente, para terem posições livres, descomprometidas e eficazes.
Não posso no entanto deixar de fazer algumas observações que me parecem óbvias e que temo estejam a passar despercebidas à maior parte das pessoas.
- Em relação ao Rivoli
e ao Sr. La Féria e na sequência do texto do Rui Encarnação:
Nós não sabemos quais são as contrapartidas financeiras que o Sr. La Féria vai dar à Câmara, porque estão directamente relacionadas com o lucro que terá. Nuns jornais li 6% das receitas de bilheteira, noutros 5%. Só para que se saiba, este valor é inferior ao que qualquer autor recebe de direitos por ver as suas peças representadas e muitíssimo inferior aos 50% de receitas de bilheteira, a título de aluguer, que a actual gestão cobrava em alguns casos a companhias, sem os fins comerciais do Sr. La Féria, que lá se apresentavam.
Mas sabemos que a CMP VAI PAGAR água, energia (luz e aquecimento), segurança, limpeza e manutenção para o Sr. La Féria produzir os seus espectáculos e arrecadar as respectivas e legítimas receitas. Suponho que todos imaginam a quantidade de energia que um teatro gasta com mais de cem projectores de 1000, 200 e 5000 W ligados durante horas de espectáculos e horas de ensaios. Para não falar da dimensão do edifício e da energia necessária para o aquecer decentemente e iluminar as áreas públicas.
Se a CMP do Porto decidisse que fazia falta para ‘animar’ (essa terrível palavra que nos remete para alguns tempos da velha senhora) a Baixa um restaurante aberto toda a noite com comida oriental e para esse efeito convidasse alguém, oferecesse um espaço nobre no centro da cidade, pagasse água, luz, manutenção e segurança – e já agora os equipamentos todos necessários ao funcionamento do restaurante – os senhores que tanto defendem a iniciativa privada não iriam achar que este restaurante ia ser incorrectamente favorecido pela Autarquia?
A única diferença deste caso para o Rivoli é que este restaurante seria seguramente mais necessário do que o senhor La Féria para a Baixa do Porto.
- Em relação à pontuação
Não percebo que pedra no sapato o Tiago tem com as pessoas que escrevem comunicados, que se barricam no teatro e escrevem poemas cómico-jocosos sobre a vida da cidade…
- Em relação ao Rui Rio
Confesso que nunca tinha ouvido o Dr. Rui Rio a falar tanto como nas entrevistas recentes que deu para alguns canais de televisão, mas de todos as reacções que li e ouvi a propósito dessas entrevistas, houve uma coisa que passou despercebida à maior parte das pessoas.
O Dr. Rui Rio é claramente uma pessoa mal formada, mal-educada, inculta, de vistas curtas, provinciano, fala mau e mal português, é, enfim, um bronco à moda antiga. E parece ter orgulho nisso.
É por isso que é mau presidente da CMP? Também será por isso. Mas é, acima de tudo, o facto de não ter nenhuma ideia do que é uma cidade contemporânea naquela cabeça que faz dele um tão mau presidente da CMP. Mais grave ainda é ele ser ambicioso e populista o suficiente para o seu partido o apoiar sem restrições agora e quando um dia ele quiser ser primeiro-ministro. Porque não duvidem que quer e deve pensar nisso todos os dias enquanto se penteia em frente ao espelho.
Não sei se foi comentado aqui um artigo que saiu em tempos na Visão, creio eu, onde o seu chefe de gabinete dizia, citando o Presidente: ‘Este tipo de discurso anti-cultural cai muito mal nas elites, mas cai muito bem nos Bairros Sociais’. (cito de memória)
Será ou não preciso comentar afirmações deste tipo? Ainda queremos e podemos dar o benefício da dúvida a pessoas tão pouco interessantes (e a minha vontade seria ser mesmo muito insultuoso) como estas?
Boas Festas, Bom Natal e bons espectáculos.
Hélder Sousa