De: Rui Encarnação - "As vírgulas, Saramago, os pontos e os finais (do Rivoli)"
Li com interesse o post relativo à deficiente pontuação do comunicado do Juntos no Rivoli. Contudo, a questão das vírgulas é, salvo melhor opinião, uma daquelas que, com facilidade, facilmente se ultrapassa. Qualquer mão firme, qualquer caneta bem apontada ou tecla bem carregada o resolve. E bem! Se calhar até dispensa a intervenção a posteriori, basta invocar um Saramago style. Com um Saramago style já não há vírgula que resista.
E mais. Também não resiste qualquer importância da vírgula, ou ausência dela, no combate entre a forma e o conteúdo, pois que os textos serão cultos ou não, eruditos ou não, artísticos ou não, em função do conteúdo. Não creio que a perfeição do português escrito num determinado comunicado seja sinónimo de falta de cultura ou menos cultura. Todos os que, como eu, tenham formação nas “humanísticas” já leram textos exemplarmente redigidos e gramaticalmente correctos, mas cujo autor e conteúdo são, essencialmente, incultos. Ficou bem o reparo ao comunicado já que o cuidado no português nunca é demais. Mudando o parágrafo.
Creio que vamos ter bastas surpresas com a atribuição da gestão do Rivoli ao Filipe La Féria. Não que saiba os termos das propostas ou do modelo de contrato que será hoje votado, mas apenas porque o silêncio em relação aos números envolvidos no processo de decisão continuam cobertos por um manto (veremos se diáfano).
É quase inacreditável que no dia da escolha e decisão de entrega do maior Teatro do Porto, de um dos maiores, melhores e mais bem equipados Teatros Municipais do país a uma entidade privada, os portuenses não saibam qual o valor da contrapartida económica que esse privado irá pagar pela utilização desse equipamento de todos nós.
Será que todos aqueles que defendem ou entendem que a entrega do Rivoli a Filipe La Feria pode permitir uma maior afluência de público e pessoas à Baixa do Porto, manteriam essa opinião caso o teatro lhe fosse entregue gratuitamente? Então onde estaria a igualdade de concorrência?
Os comerciantes da Baixa pagam as suas rendas, as prestações dos empréstimos, e tudo o mais que precisam para “terem a loja aberta” e exercerem o seu comércio. Será que Filipe La Féria tem estatuto especial? Logo ele que faz teatro para multidões, dito comercial e visando o lucro?
Sinceramente, não consigo perceber, ou compreender, como se pode decidir, e muito menos avaliar uma decisão, sem que existam critérios racionais, lógicos e claros que a presidam. Neste ponto, e assunto, estamos perto do final - do Rivoli. Só falta saber se a página vira ou se a frase continua a seguir ao ponto (com maiúscula).
Rui Encarnação