De: Carlos Araújo Alves - "Rivoli: cultura de gestão"
Para lá da questão do “insuspeito” processo, a decisão de concessionar a um produtor que, apesar de produzir bem e do agrado das gentes, não programa para além de si próprio, é demasiadamente pobre!
O problema da cultura, estimada Cristina, não se revela em torno de conceitos esteriotipados, se de massas se de local, se elevada ou menos, mas sim na total incapacidade (dos actores culturais, dos poderes locais, dos poderes nacionais) em encontrarem forma de a gerir! Falar de gestão às pessoas que repetem ad nauseum que a cultura não é para dar dinheiro é apresentar-lhes o diabo feito gente; para os senhores economistas de “economês” (cuja escola portuguesa produziu em douta abundância sem nunca terem passado pelo mercado de trabalho ou gerido uma empresa privada) falar-lhes de cultura é o mesmo que falar em subsídio-dependência! Para esta “missa”, francamente, já não tenho pachorra - se as pessoas só conseguem ver a preto e branco o melhor é procurarem um oftalmologista que as ajude e, caso o problema revele não ser dessa área, talvez uma sessões de psicanálise possam ajudar.
As produções que o Sr. La Feria tem apresentado com grande qualidade, no género, repito, são o paradigma da itinerância e não da residência. Quem investe o montante que investe e produz com a qualidade que patenteia, deveriam todos os teatros de rede abrir as suas portas e negociar com ele a bilheteira. Ora é precisamente esta visão que falta aos nossos políticos nacionais e regionais que deambulam pela estafada discussão entre mais ou menos Estado! Não há gestores culturais em Portugal! Ninguém pensa que há produções que podem dar rendimento de bilheteira para apoiar outras que são necessárias a uma programação variada e de qualidade.
Pelo facto de os poderes instituídos não colocarem gestores à frente dos equipamentos culturais em detrimento de directores artísticos ou programadores sem objectivos de rentabilidade dá no que deu no Rivoli, no que se está a dar no Teatro Aveirense e no que se dará, previsão minha para meu desencanto, nas restantes salas deste país!
A cultura deve e tem de ser gerida! A cultura deve e tem de ser gerida como se de um portfólio de bens transaccionáveis se tratasse, e trata! Esse é o erro de concessionar o Rivoli com base em 4 produções anuais, seja ao Sr. La Féria ou a qualquer outro produtor!
Exemplos…, o melhor, que me ocorre assim de repente até é do Porto! Depois da desastrosa gestão que a Porto 2001 colocou na Casa da Música, depois da não menos desastrosa gestão que o Dr. Rui Rio colocou no mesmo projecto, apareceu finalmente um gestor, Alves Monteiro, pela mão de Artur Santos Silva, que em 8 meses conseguiu o que parecia impossível – saber como estava o projecto, apurar o seu custo real, impor um prazo de concretização, estudar e propor a mais adequada forma de gestão (fundação) e nomear um director artístico para trabalhar na sua dependência, com Pedro Burmester como seu assistente pessoal! (link)
Definitivamente quando gestores e actores culturais virem que ganham mais aliados do que de costas voltadas poderá ser que os nossos políticos mudem, porque para eles o importante são as vitórias imediatas e mediáticas.
Bom Natal e Feliz Ano Novo a todos os leitores desta Baixa
Carlos Araújo Alves
Ideias Soltas