De: Rui Valente - "Permitem-me?"

Submetido por taf em Quinta, 2006-12-14 20:28

O Tiago e os participantes do Blog que me desculpem se considerarem fora do contexto da Baixa o assunto que quero abordar, mas por se tratar de uma figura política originária do Porto e ilustremente pouco alinhada com os nossos problemas talvez não seja de todo desajustado falar um pouco da personagem.

Trata-se de Pacheco Pereira. Como já vem sendo hábito, o senhor Pacheco Pereira abespinha-se sempre que fala de assuntos relacionados com o "tenebroso" mundo do futebol e muito em particular, quando se trata do F.Clube do Porto. Ontem, na "Quadratura do Círculo", não deixou fugir a oportunidade de mais uma vez denunciar a sua visceral antipatia pelo mais emblemático clube da nossa cidade.

Estamos todos cansados (não aqui, claro) de ouvir falar dos problemas relacionados com o futebol português, dos escândalos com alguns dirigentes de clubes e não é preciso gastar os neurónios para concluir que afinal o futebol, pela sua componente emocional (os portugueses não são os únicos no Mundo a preferir esssa modalidade desportiva), enferma exactamente dos mesmos males e vícios que todas as áreas da nossa vida, potenciados pelo factor da paixão clubística.

Ora, habituados que estamos a ver (na SIC Notícias) o Dr. Pacheco Pereira a dissecar sobre tudo quanto está errado do seu ponto de vista de uma forma pretensamente superior, é de ficar de boca aberta com o "Abrupto" interesse pela literatura postiça e oportunista de Carolina Salgado pela eventualidade de nela descortinar alguns indícios de investigação criminal. Além disso, e de novo, pretende convencer-nos de uma indignação mais apropriada ao cidadão comum, que pouco pode para alterar estas coisas, do que à de um homem profundamente ligado à política que ao que parece perdeu de todo a noção da responsabilidade sobre a actividade a que um dia decidiu dedicar-se. Provavelmente, o senhor Pacheco Pereira faz das suas remuneradas intervenções televisivas uma sublime ideia de serviço à causa pública, a ponto de se esquecer da importância hierárquica entre o poder político executivo e o poder circunstancial e limitadíssimo do eleitorado. Quando lhe convém, mistura-os para nos confundir e para afastar para bem longe qualquer responsabilidade pessoal sobre os males que flagelam a nossa vida. Tudo a ver com os outros, nada a ver com ele. Ele diz como se faz, ele, ele, ele e ele.

É que, na realidade, Portugal continua a ser um país adiado (por muito que isto desagrade aos hiper-optimistas residuais), e se existe alguém responsável pelo estado pérfido da nossa sociedade, insisto, os primeiros são precisamente os políticos que permitiram com o seu sucessivo laxismo e incompetência que as coisas atingissem esta dimensão. Porque, para nos indignarmos bastamos nós, meros cidadãos que não nos achamos provavelmente capazes da nobre arte de governar um país e por isso não nos metemos na política, mas não é apenas isso que esperamos daqueles que nela decidiram fazer carreira por vontade própria.

Para além do mais, não nos iludemos com as moralidades vindas de onde vêm (refiro-me às Televisões centralistas) e filtremos bem tudo o que ouvimos e vemos. Bastará lembrar o que já se foi fazendo no passado (a SIC com "Os Donos da Bola", por exemplo), para tentar destruir um clube e um homem incómodo ao poder central lisboeta apenas porque teve o mérito de transferir para a segunda cidade do país glórias desportivas que outrora foram suas e que achavam poder preservar a título vitalício sem grande esforço.

Esta é também a outra face do centralismo, e muito mais agressiva, que por motivos óbvios todos nós temos evitado discutir, mas com o respeito por todos me atrevo agora a tocar. E Pacheco Pereira, mais uma vez, não resistiu à tentação de espetar mais umas farpazinhas venenosas em alguém que não suporta, mas que de forma indirecta procura agora enterrar só porque uma Carolina qualquer lançou mão dos piores recursos para ganhar vilmente mais uns tostões.

Vamos todos ver, se mais uma vez, a montanha não pariu um rato. Impunemente, também. E pela parte que me toca (já que sem o saber também devo ser responsável por estas bagunças), faço desde já mea culpa.

Rui Valente