De: António Alves - "Que ninguém se iluda"
O facto da administração da Metro do Porto ter efectuado actos de gestão condenáveis (os favores a Rui Rio, por exemplo), não justifica que nós portuenses, militantes de partidos políticos ou não, fiquemos calados perante os acontecimentos dos últimos dias. O Tribunal de Contas fez de facto um frete político ao Governo, na sua sanha centralizadora, e a uma facção do PS Porto na actual guerra em curso pelos tachos. Pena é que no Porto haja ainda quem não seja capaz de se libertar dos seus complexos de colonizado e se coloque ao lado dos centralistas. A mentalização dos gentios da sua inferioridade e corrupção de espírito perante os colonizadores foi uma técnica muito utilizada e com resultados eficazes durante muito tempo em muitas partes do mundo. Por cá parece que ainda resulta.
No fim de todos estes tristes episódios sobressai uma novidade positiva: Francisco Assis parece que finalmente compreendeu o que está em jogo e teve a coragem de afrontar o seu próprio partido, que é tradicionalmente o mais centralista e jacobino de todos. Se continuar assim, sem tergiversar nos seus propósitos de defender a Região e a sua autonomia em definir e orientar projectos como o Metro do Porto, talvez venha a merecer uma segunda oportunidade. Que ninguém se iluda, se o Metro do Porto estivesse desde o início nas mãos do Estado Central ainda não teria passado do papel. Dado insofismável, e as verdades devem ser ditas, assim como as comparações pertinentes, é o facto do Metro de Lisboa, apesar de gerido pelo Estado central (que funciona tradicionalmente como a verdadeira câmara municipal da capital) ser muito mais incompetentemente gerido, acumulando anualmente milhões e milhões de prejuízos, mas conseguindo sempre lá ir passando sem nunca ninguém o pôr em causa. Imagina-se facilmente porquê. Também é verdade que, apesar da sua curta vida, o sistema de metro ligeiro do Grande Porto atingiu já uma dimensão e eficácia de fazer inveja a muito boa gente; gente essa que sempre se julgou com a exclusividade da capacidade de realização. Se o Governo insistir nos seus intentos de subalternizar a Junta Metropolitana na gestão da Empresa Metro do Porto, estará na hora de nós cidadãos deixarmos o conforto dos teclados e mostrarmos na rua a nossa discordância.
António Alves