De: Rui Valente - "A entrevista de Rui Rio ao «Vida Económica»"
Li a entrevista do Presidente da CMP ao jornal Vida Económica aqui recomendada pelo António Alves, mas ao contrário deste nosso amigo, desta vez não concordo com ele, nem tão pouco subscrevo as opiniões expressas pelo autarca. E vou explicar porquê.
- Em primeiro lugar, porque é inconcebível que um político possa ter ideias tão ténues sobre um dos grandes problemas do país, como é o caso da Regionalização. Já custa compreender que o comum cidadão a viver ou residir fora da Grande Lisboa tenha dúvidas sobre o assunto, mas acho de uma tremenda hipocrisia que alguém que faz da política a sua carreira só agora revele sinais de mudar de opinião e ainda assim, com algumas reservas.
- Em segundo, porque a argumentação que agora apresenta para a indecisa mudança não é nova para ninguém, é a mesma de sempre, de Abril de 74 a esta parte, mas obviamente mais acentuada pelos anos que vão passando. Ironicamente, recordo, o Porto - cidade liberal - em muitos aspectos teve mais protagonismo a nível nacional no tempo da ditadura, do que com o evento da democracia. Bastará evocar o número de bancos aqui sedeados que entretanto passaram para a capital, ou mesmo os jornais que entretanto desapareceram bem como a concentração em Lisboa das mais poderosas estações de TV, incluindo a estatal (e a culpa, insisto, não é apenas da falta de iniciativa dos cidadãos locais, mas sobretudo da concentração dos poderes públicos na capital).
- Terceiro, porque à medida que decorrem os anos neste sádico zigue-zague sobre a Regionalização, mais se acentua a minha repugnância por aquelas ideias que sustentam a "coesão nacional" como razão principal para não desejarem a divisão regional e administrativa do país. Considero esta posição tanto mais falaciosa como séria se tem revelado a inversão na ordem dos motivos. Ou seja, o que poderá fazer perigar a coesão nacional é a continuação da dinâmica centralizadora e não a Regionalização que, a pretexto de uma deficiente divisão administrativa se continua a protelar com os resultados que se conhecem.
- Por fim, e quanto ao entusiasmo de que vai dando mostras sobre os benefícios e a visibilidade para a cidade do Porto com a realização do GP Histórico do Porto, nada tenho contra. Eu até gosto de automóveis (muito em especial dos desportivos), só que aqui também não compreendo o autarca. É que tenho receio que tanto entusiasmo pela modalidade o possa conduzir a uma promiscuidade semelhante à que criticou relativamente a outras pessoas e a outros desportos, o que diga-se, não abonará os bons costumes de tão íntegra personalidade. E quem será capaz de nos dizer onde termina o empenho e começa a promiscuidade? Prometo-vos estar atento.
Rui Valente
PS.- Caro António Alves, é verdade que só não mudam de opinião os burros, mas neste caso não houve sequer uma mudança assumida do Presidente da CMP em relação à Regionalização. Repare bem que ele diz: "regionalização pode ter que ser a solução", não diz que é a solução! Neste particular, é o Rui Rio no seu melhor, um homem cada vez mais NIM.