De: Ricardo Alves - "Carta aberta ao Presidente da CMP"

Submetido por taf em Quarta, 2006-11-08 11:52

Exmo. Sr. Dr. Rui Rio

Na sequência da entrevista apresentada na passada segunda-feira na RTP1, onde V. Ex.ª se mostrou disponível para apoiar os grupos de Teatro da cidade do Porto - não em subsídios a fundo perdido, mas sim pelo pagamento de uma sala para apresentação dos seus trabalhos - vimos solicitar a V. Ex.ª o apoio para o aluguer de uma sala de teatro, nesta cidade, para a realização de 2 semanas de ensaios e montagem e 6 semanas de apresentação de espectáculos e, ainda, o aluguer de um espaço de ensaios durante 6 semanas.

Caso desconheça o nosso trabalho, mais informo que a nossa última representação - Armadilha para Condóminos - esteve em cena um mês, tendo cumprido 17 representações, que foram vistos por 2.276 pessoas (lotação média de 133 pessoas por dia, 76% de ocupação da sala). A temporada rendeu 12.374 euros. Valor, infelizmente, ainda assim insuficiente para pagar todos os custos de produção, uma vez que estes foram de 15 mil euros e que metade da receita, por contrato, pertencia ao teatro de acolhimento. Não sendo um grupo apoiado - nem pelo Estado central, nem pelo autárquico - apenas tivemos o apoio de duas empresas privadas que nos facultaram gratuitamente alguns dos materiais que eram necessários para a cenografia.

Apesar dos últimos 7 dias de representação terem tido a lotação esgotada e haver ainda muita gente que gostaria de pagar para ver o trabalho que produzimos, por compromissos já assumidos pelo teatro onde nos encontrávamos, foi de todo impossível prolongar a temporada.

Assim, para o nosso próximo trabalho pensamos que o ideal seria apostar numa temporada mais intensa e para um universo maior de possíveis espectadores. Uma temporada de 5 espectáculos semanais ao longo de 6 semanas num universo possível, atendendo à capacidade da sala em questão, de 11.820 espectadores.

Penso que, com estes universos de possíveis espectadores, será viável, e necessário, investir um pouco mais na qualidade de cenários, adereços, número de actores em palco e divulgação. Pelo que estimo que o custo da próxima produção poderá rondar os 30 mil euros, investimento que penso ser recuperável nas receitas de bilheteira, evitando assim a subsídio-dependência que V. Ex.ª. critica.

Mais informo V. Ex.ª que o preço aproximado de aluguer da sala será de 68.600 euros (quase de 14 mil contos), infelizmente o mais do dobro do custo da própria produção. Quase o dobro dos apoios que a Câmara Municipal do Porto pensou em dar ao Fazer a Festa e à Fundação Eugénio de Andrade. O dobro do que o Fantasporto espera receber da Câmara Municipal do Porto para a sua próxima edição. Seis vezes o que foi atribuído ao Festival Internacional de Marionetas e mais do dobro do atribuído ao FITEI.

Basicamente são 68% do valor que V.Ex.ª investiu em subsídios a fundo perdido às iniciativas culturais da cidade. Mas estou seguro que quando avançou com a solução de pagar a sala e não de dar subsídios a fundo perdido pensou antes de falar e fez as contas.

É de salientar que o valor referido inclui - além do aluguer da sala de espectáculos, sala de ensaios e do material técnico - o custo de quatro técnicos (um técnico de som, um técnico de luz, um maquinista e um director de cena) para acompanhamento de ensaios e temporada.

Sei, evidentemente, que o preço é elevado - principalmente se considerarmos a complicada crise que o país atravessa. Infelizmente, o proprietário da sala não me parece sensível a esses argumentos, uma vez que este é já o preço praticado para entidades sem fins lucrativos.

Felizmente que, com o apoio que V. Ex.ª não deixará seguramente de atribuir a este projecto, será possível manter os preços dos bilhetes num valor médio de 5 euros (contado com um ocupação média de 50%) e não ter que cobrar um preço médio de 16 euros e 60 cêntimos o que tornaria o teatro um artigo de luxo, não compatível com a bolsa da maioria dos portuenses.

Mais informo que a sala de espectáculos e a sala de ensaios que pretendemos alugar são do Teatro do Campo Alegre, pertença da Fundação Ciência e Desenvolvimento, entidade composta pela Câmara Municipal do Porto e pela Universidade do Porto. Infelizmente são estes os preços praticados por aquela que V. Ex.ª considera a segunda sala de teatro que a câmara tem para oferecer à cidade, e que se tornará na única quando, e se efectivamente for, privatizada a gestão do Rivoli.

Caso V. Ex.ª tenha conhecimento de uma outra sala de teatro equipada e pronta a acolher o nosso projecto, numa temporada longa, e que fique mais económica para o erário público, teremos muito gosto em estudar a viabilidade de nela apresentar o espectáculo. Nós, que conhecemos bem a realidade cultural da cidade do Porto, infelizmente não conhecemos nenhuma na cidade.

Aguardando deferimento.

Atenciosamente,
Ricardo Alves
(Director do Teatro da Palmilha Dentada)