De: Cristina Santos - "Foi o fim dos samurais"

Submetido por taf em Sábado, 2006-11-04 18:21

Há vários tipos de cultura, a cultura empresarial, a cultura das gentes, a cultura do homem culto, a cultura da batata, até há cultura de esquerda... Chama-se cultura a uma ideia ou tradição que passa de geração em geração. A cultura do povo é tomar conhecimento pela representação de mitos, tradições, de usos e costumes, que ao encerrar a tela nos deixam uma moral de vida, um problema ou uma resolução.

Ao Governo compete criar esses parâmetros. É cultura mostrar-nos a vida da Amália, assim como será cultura representar a vida das gentes do Centro Histórico, será cultura uma peça sobre Fernando Pessoa, será cultura um espectáculo sobre o pequeno ditador. Será repetitivo outro espectáculo de Shakespeare. Será cultura a vida dos Almada, a do Chico Fininho, a de D. Pedro, o homem que nos deixou o coração na Lapa.

Agora não sei o quem tem a ver a cultura, que é uma coisa subjectiva, com a cedência a privados de um teatro municipal, nem Rui Rio cedeu o espaço por problemas financeiros, nem sequer com isso deixou de subsidiar espectáculos. O que esta aqui em causa, é uma má ideia, uma estupidez completa.

Numa época em que se pretende prender o povo à Baixa, não se dão esses exemplos e por mais que queiramos entender isto como uma questão de ordem financeira ou liberal, traz-nos mais prejuízos que lucros, o Francisco pode pensar que agora vamos ter mais gente nos espectáculos do Rivoli, eu diria que não era preciso isto para se conseguir, os privados vão inventar novas companhias, ou os bilhetes vão ser mais baratos, vamos fazer no Rivoli o que já se faz no TSJ?!

Foi uma má resolução, a atitude correcta seria recuperar o Rivoli, todos os que promovessem espectáculos sobre o Porto, a História do Porto, seriam apoiados, todos os outros plágios ou cultura em rede teriam lugar em outros locais, seria uma aposta no Porto, nas gentes, na auto-estima. Seria pelo menos uma ideia sobre a aposta cultural do executivo.

Quanto à atitude do Hélder em afirmar que é a última vez que vem a este blog, diria que é esse tipo de atitude da malta da cultura que afasta o povo, um homem que promove cultura está sempre disponível para a discussão, as discordâncias servem de inspiração. A cultura tem que aceitar, muitas das críticas são justas, resta-lhe criar sátiras sobre isso e analisar-se a si própria, mas nunca abandonar a discussão.

Quer dizer, é a minha opinião, mas também não sou exemplo nesses embrenhados culturais, cultura para gente fina como eu é o Mingos & Os Samurais e cá vai um grande abraço de parabéns a Rui Veloso e a Carlos Tê que tão longe levaram o nosso Porto.

«Cantou baixinho no comboio
Ganhou uma força secreta
E nesse dia lá no bairro lembro-me eu
Falou-se da partida do berto poeta»

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Cristina Santos