De: Paulo Espinha - "A Baixa e o Infante"
Aparentemente o concurso sobre “Os Grandes Portugueses” pouco tem a haver com “A Baixa do Porto”. Para mim não é assim. O meu voto vai para o INFANTE D. HENRIQUE. Várias são as razões que, em meu entender, sustentam a minha escolha.
Em primeiro lugar, o VIRIATO não chegou lá e nós não sabemos de facto quais as verdadeiras razões para o D. AFONSO ter lançado uma opa hostil ao condado portucalense, ter batido com a porta à mãe e ter vindo por aí a baixo. Terá sido recalcamento por não ter tirado um mba? Inveja, ambição? Nunca saberemos...
Em segundo lugar, quer queiramos, quer não, a Diáspora, os Descobrimentos foram, de facto, o maior contributo português para a alavancagem de toda a civilização ocidental e um dos marcos mais importantes da história de toda a humanidade, mesmo enquanto etapa efémera de toda a nossa imortalidade. Perfeitamente equivalente à descoberta da roda.
Em terceiro lugar, não foi um mero executante dessa mesma expansão, como o foram tantos outros, e bravos o foram, ou mesmo um gestor pós-lançamento do produto, como o foi D. João II. Foi mesmo o “switch on”: fez, provocou, levou a, originou. Por muito respeito, que o tenho, pelo social EÇA, pelo épico CAMÕES e pela alma PESSOA, nenhum destes fez, provocou, levou a, originou, na mesma dimensão que o INFANTE. Ah, ultimamente anda por aí um renegado que edita livros de dois em dois anos, mas que não chega aos calcanhares daqueles três.
Em quarto lugar, era um homem livre. Hoje em dia, estamos cansados de “gaijos” que se dizem honestos e por aí fora, mas que de facto não são livres. Livre era também AGOSTINHO DA SILVA. Há ainda por aí uns desbocados que, por terem muitos bens materiais, coleccionarem arte e não conseguirem usar o cartão de crédito para eles próprios construírem os seus próprios museus, acham que são livres. Aparentemente, na ditadura do material, os mais incautos poderão ser levados a considerá-los livres, esquecendo-se da prisão do tangível e da vaidade e da absoluta necessidade do reconhecimento.
Em quinto lugar, não era de certeza um mangas-de-alpaca ou elemento de uma qualquer corporação. Estes caracterizam-se pelo medo que fede e por um elevado sentido de estado, sem qualquer hipótese de mudança de estado. Ora, o INFANTE teve a capacidade de criar um novo estado.
Em sexto lugar, não era, nem deixava de ser um ditador. À época não havia ditadores, havia sim déspotas, pré-iluminados ou não. E assim se livra da fama e proveito com que ficou um nosso ANTÓNIO bem conhecido, o velho.
Em sétimo lugar, tinha um sonho, uma visão. E um sonho ninguém nos consegue roubar. Percebeu a pequenez do rectângulo. Foi pró-activo. Sorveu saber, concebeu um novo horizonte, sublimou uma raça, inclusive até contra o abraço da aliança. Por causa disto não relevamos, no caso português, qualquer luta antifascista do século que já acabou – quando passamos uma vida a lutar pelo não, chegamos ao fim ocos, frios e afectivamente desequilibrados.
Em oitavo lugar, tinha uma estratégia. Se não tinha dinheiro, foi buscá-lo ao que restava de um dos maiores bancos internacionais da altura – a ordem proscrita. Daí se considerar hoje Tomar mais importante que Sagres. E para obter o apoio da maior multinacional de todos os tempos, hoje com mais de 2.000 anos, prometeu levar a palavra “por mares nunca de antes navegados”...
Em nono lugar, os afectos. O neutro é a antítese do paradigma – esta é para calar o nosso anarca estrutural de serviço e abruptamente acalmar os nossos analistas mais irrequietos.
Em décimo, há almas assim, deixam um rasto de mistério, uma aura de misticismo. Ao ponto de haver discussões sobre qual deles é o verdadeiro no retrato conjunto constante do tríptico. O que nos pode levar a uma questão: foi mesmo o INFANTE? Ou foi UM PORTUGUÊS DESCONHECIDO?
E que tal uma visita à Casa do Infante...
De qualquer modo está votado.
Paulo Espinha