De: TeoDias - "Os dois Josés"

Submetido por taf em Segunda, 2006-10-23 05:06

Estava eu debruçado sobre imagens e pesquisas em artigos sobre a cidade que me viu nascer, quando tive a má ideia de deixar um olhar resvalar sobre "A Baixa do Porto" - lá fora, na rua passavam barulhentos morcegos disfarçados em estudantes e em caloiros.

Primeiro: uma imagem já muito velhinha do largo dos ferradores.. eu devo ter umas fugazes ideias do era a Praça Carlos Alberto, uns cinquenta anos anos mais tarde.

Segundo e o mais importante: o texto do José Leitão sobre o Rivoli faz-me sair um pouco sobre o meu silêncio sobre o assunto.

Conheço o José Leitão e o seu sorriso atrás dos óculos, compramos tabaco na Marquesinha, trocamos algumas palavras pelos lados da Picaria. Conheci-o há pouco tempo atrás quando tentava divulgar um espectáculo junto de uma instituição onde eu fazia "prestação de serviços".

Conheci o JPP há décadas, ainda me lembro da primeira vez que o encontrei ali em Sá da Bandeira. Puto esperto, inteligência a toda a prova. Há mais de trinta anos que não me cruzo com ele! Por vezes leio a prosa do Abrupto, ouvia-o na TSF.

Dou inteira razão às palavras do José Leitão. Admiro a sua simplicidade de não ter dito no seu texto que o Teatro Art'imagem recusou a assinar um protocolo com a CMP pela simples razão de existir uma cláusula limitativa em direitos de expressão. Continuo a admirar aqueles que tentam levar para a frente iniciativas culturais num ambiente tão inóspito.

Também li, não agora, o texto do José (Pacheco Pereira). Ele andou por Bruxelas e está em Portugal. Eu também andei pela Europa e agora estou aqui. No Porto sei que o teatro não morreu em Lisboa, ele em Lisboa pensa que o TEP já morreu. No Porto sei que o Cineclube da Horta passa filmes no Faial, ele em Lisboa não sabe que o Cineclube do Porto ainda existe e tem as suas sessões quinzenais no "Batalha". O mal dos filósofos, dos políticos(da política) é de se afastarem da cidade, da vida dos cidadãos.

Como diz o José Leitão talvez o JPP se tenha esquecido (ou não se tenha apercebido) como era o Porto nos anos 60. Talvez tenha estado a aprender piano em 1968, talvez tenha despertado só para a política no "Piolho" em 1969! Talvez ainda pense que a Árvore regrupa também a UNICEPE. Talvez pense que na rua do Almada só existem lojas onde se vendem ferramentas e ferro. Talvez não saiba que ainda se vendem discos em vinil. Talvez também pense que só existem dois alfarrabistas na cidade. Talvez pense que todos os portuenses só vêem cinema uma vez por ano no Fantasporto. Talvez pense que o Circuito da Boavista não se vai repetir. Talvez pense que o Ginjal ainda existe. Talvez pense que a estação de metro da Trindade é o umbigo da cidade. Talvez não se passeie pela cidade onde cresceu.

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Menos dois cafés no Porto: o S. Paulo - como o disse a Assunção (felizmente parece que não tocaram ainda no painel - continuo à espera de saber quem é o autor) e o Porto Sabor - na Rua da Fábrica.

TeoDias
Ruas do Porto