De: Nuno Casimiro - "Rivolitz"
Penso que, nas intervenções mais recentes, há alguns equívocos que convém esclarecer.
A intervenção deste executivo tem sido de constante e elaborada perseguição ao tecido artístico/cultural da cidade. Uma estratégia assaz bem montada que faz com que, nesta altura, uma boa parte das pessoas entenda como normal situações que não são nem nunca o foram.
No caso específico do Rivoli, convém assentar que a sua gestão esteve baseada na Culturporto, dependente da CMP e com a intervenção de outras entidades (que agora se demitiram por recusarem ser associadas a esta situação). A Culturporto, o seu figurino de gestão e equipa padeceram, desde o seu início com a deputada Manuela Melo e o presidente Fernando Gomes, de deficiências atrozes que há muito deviam ter sido corrigidas. Essa é uma das razões para alguns dos problemas do Rivoli – Teatro Municipal, nomeadamente as que se prendem com as despesas de manutenção. Não obstante, só com a chegada deste executivo o espaço do teatro municipal foi absolutamente esvaziado de funções. Primeiro, retirando a verba disponível para programação, depois, ao criar a Porto Lazer que assumiria funções sobrepostas a algumas da Culturporto, mas com um orçamento para o fazer.
Significa isto que, na verdade, de há algum tempo para cá que o Rivoli não tem programação: tem a simpatia de aceitar as propostas que pareçam melhores para ocupar os espaços disponíveis e a agenda.
Isto é fruto da vontade deliberada deste executivo de abandonar essa actividade. Não é intelectualmente honesto dizer agora que este espaço é um elefante branco que apenas sorve dinheiro e não produz nada. Se, neste momento, o Rivoli é caro, é porque nos últimos 6 anos tudo se fez para que assim acontecesse.
Quanto aos subsídios, convém antes de tudo relembrar que ninguém associado ao movimento Juntos no Rivoli fez qualquer menção a essa questão. Não é, de facto, ponto em discussão neste momento. Falar de subsídios é uma estratégia de baixa política para agitar as hostes contra a ideia feita da “corja de bandalhos” que vive à custa do erário público. Deixemos, por isso, a questão paralela dos subsídios para uma discussão outra que não a da privatização da programação de um Teatro Municipal.
Para o Rivoli foram canalizados vários milhões de euros em fundos do Estado Português e da União Europeia, dinheiro de todos, portanto, que deve ser rentabilizado para o bem de todos e não apenas de alguns. Ora, com um modelo de programação pública, o Teatro Municipal serve para promover uma estratégia mais alargada de intervenção urbana, social e económica mas, sobretudo, não serve apenas para que os grupos que aí actuem exerçam a sua actividade como qualquer outro profissional, cumprindo o seu papel. A entrega de um espaço deste género a uma programação cujo fito é o lucro apenas servirá a que os dinheiros que foram ali investidos e que são de todos sirvam apenas para os alguns que gerirem o espaço.
Quanto às companhias de teatro ou de dança e quaisquer outras entidades capazes de propor e programar agendas consistentes (refiro o Instituto Francês/Alliance Française e o Goethe Institut, como mera ilustração das possibilidades já testadas de almejar algum cosmopolitismo), ver-se-ão, após a entrega do Rivoli a privados obrigadas a procurar novos sítios onde as suas propostas possam ser discutidas e apresentadas. Em princípio, face ao panorama actual, fora do Porto.
É aí que perdemos todos.
Nuno Casimiro