De: Rui Encarnação - "Os Brancos"
Se a abstenção é fácil, barata e não dá chatices, o voto branco, ou “em branco”, é mais incómodo e mais, muito mais, contundente.
O voto, o direito de votar, o direito de votar como se quiser e em quem se quiser, é um daqueles direitos que não tem cor política, nem apego a nenhum partido. Talvez não seja um direito para quem não se reveja e não queira que o Estado se organize num sistema em que através do voto se elejam representantes que decidam o destino da coisa pública. Mas, fora esses, todos os outros têm o direito e têm o dever de votar. Esse é um dos poucos que os políticos e os partidos deixaram livres à iniciativa e à livre disposição daquilo a que é bem chamar-se sociedade civil.
Por isso é que votar em branco é participar na vida de um país e de um Estado. Participar politicamente. E tanto é participação política escolher uma das organizações que se apresentam a sufrágio, como não escolher nenhuma. Por isso é que votar em branco é, ou pode ser, um exercício de cidadania.
Se bem repararem, o Tiago tem absoluta razão. 80% de votos em branco constitui um sinal devastador da ineficiência das organizações políticas e, paralelamente, um sinal de vontade e interesse pela política dado por 80% da população votante. Se com 80% de abstenção as forças políticas sentem a legitimidade dos que se interessam e dos que exercem a cidadania – é sempre este o argumento – com 80% dos votos em branco já não o poderiam dizer ou fazer. Aí ou elas, forças politicas, eram incapazes de convencer e explicar os seus projectos – e por isso não obtiveram votos e mandato – ou 80% das pessoas que participaram no sufrágio não querem, nem gostam, nem escolhem, nenhum dos projectos que se candidataram – e aí ainda menos legitimidade política teriam.
Por isso, a escolha em branco é bem mais acertada.