De: Pedro Bragança - "Partidários"
Começo a provocar congestionamentos internos quando ouço falar em supostas dicotomias entre partidos políticos e interesses públicos, paixão pela cidadania, participação, debate... Aguardo, claro, o momento em que alguém se disponibilize a explicar-me o tão inquestionável malefício dos partidos na participação do debate da cidade. Correndo o risco de me tornar um conformista que aceita toda a comida que está no prato, não vejo – ou porque não se aprende na escola ou porque estive desatento à lição – problema nenhum no facto das pessoas estarem ligadas a partidos ou que os seus argumentos estejam codificados com o perfil de uma organização partidária qualquer. Ou não existe preconceito ou, se existe, só lhe consigo ver ridículo.
Por outro lado, custa-me a crer que os movimentos de grupos de cidadãos venham alterar as regras do jogo. Em primeiro lugar, os grupos de cidadãos (normalmente bem vestidos, e bem falantes) não são representativos de praticamente ninguém senão deles próprios; em segundo as pessoas que em democracia decidem as regras do jogo não querem saber de cidadãos bem vestidos e bem-falantes que pensam mais e melhor do que a média; em terceiro entendo que o discurso sobre cidade é válido quando se torna operativo. Como diria o Álvaro Domingues, sentimo-nos bem a escrever sobre cidade quando pensamos num livro de instruções de bricolage.
Não penso que todos devem ser operativos, no entanto no discurso é fundamental haver uma conversão prática; algo que não encontro nos perfis de grande parte das associações, movimentos, grupos de cidadãos; enfim, nestes SAAL dos tempos modernos.