De: Cristina Santos - "Só se for no Continente"
Se os bons trabalhadores emigram ou vão para Lisboa como quer que o empresário tenha recursos humanos capazes de motivar uma ascensão? Entenda-se, o empresário não tem mais margem, são muitas as falhas, desde as educacionais, tributárias, judiciárias. Não devem ser eles o alvo da chamada de atenção. Não dá mais, não há por onde esticar, porque não há poder de compra. Penso que é fácil de entender.
O empresário aguenta com tudo, com a iliteracia que é um problema enorme e resulta das más políticas educacionais. Os trabalhadores chegam com uma teoria escolar inaplicável, são no mínimo necessários 3 anos de investimento para formar uma equipa capaz, muitas horas extra e acima de tudo um acompanhamento ao milímetro, diário e consecutivo. Excepção seja feita aos cursos que permitem o empreendedorismo. Acresce que o trabalhador do Norte, por não ter contacto com o desenvolvimento que merece, está ainda muito aquém das expectativas, dois anos de experiência em Lisboa valem 4 do Porto, é assim porque nos faltam uma série de recursos, que limitam a nossa desenvoltura.
O empresário aguenta a crise social que o Governo cria, não há poder de compra, não há possibilidade de fazer negócio, as pequenas empresas não fazem exportações, não podem pagar mais e trabalhadores mal pagos trabalham mal, porque desde o 25 de Abril ninguém está disposto a aguentar um projecto conjunto, é cada um por si. Se a classe media está descapitalizada, a pequena empresa vai fazer negócios com quem? O empresário fabril, o agricultor vai fazer o quê, se produzir custa mais 40% do que em Espanha, não vêem que a estratégia de abrandamento da tributação neste país com vista a apanhar a UE não nos dá margem de manobra? Vale a pena vender pelo preço de custo? Claro que não, mais vale ser trabalhador por conta de outrem.
Cair nesse erro de culpar os que são nossos, que todos os dias se esforçam, fazer uma avaliação face a um comentário de uma pessoa emigrada que nem sequer refere as horas que trabalha em face às que trabalhava no Porto, está mal António Alves, estaria bem se esse empenhado trabalhador nos dissesse que não ganhava mal para a média. Certo é que, tal como a maioria das cidadãos portugueses, empresários incluídos, não conseguia fazer poupança, isso estava correcto, culpar os empresários não está. Tenha como exemplo Trás-os-Montes onde muitos jovens emigram e de facto constroem casas e compram Audis como se ainda estivéssemos nos anos 70. Os idosos definham nas suas aldeiazinhas, alguns passam fome e resignados no muro comentam: - Estamos outra vez no fim do regime, é preciso uma revolução, mas os aviões da Europa matavam-nos, nem vale a pena tentar, se não fosse o medo até lá fora já tinha acontecido. :-)
Um abraço. Bom fim de semana, bom Serralves!
Cristina Santos