De: Correia de Araújo - "Acreditar... é preciso!"
Tive oportunidade de assistir a uma pequena parte do "Clube de Imprensa", que foi para o ar no passado dia 11, na RTP 2, cujo mote "O que é preciso para uma capital europeia ser competitiva à escala mundial" mereceu, na parte final do programa, uma incursão à temática da recuperação da Baixa (a lisboeta, neste caso). Num debate com Teresa de Sousa, como pivot, participaram ainda: António Mega Ferreira - Director do CCB, Augusto Mateus - Economista, Manuel Graça Dias - Arquitecto e Sérgio Tréfaut - Realizador de Cinema.
Foram ditas algumas coisas interessantes, no que à recuperação da(s) Baixa(s) diz respeito: assim, Mega Ferreira tem algumas dúvidas em relação à procura de habitação numa Baixa reabilitada. Entende ele que não haverá público suficiente para tal (o que há é ainda uma minoria), pois hoje a esmagadora maioria das pessoas gostam de viver em espaços mais amplos, abertos, em urbanizações novas, com zonas verdes e de lazer (sem dispensarem o lugar de garagem e o elevador).
O Arquitecto Manuel Graça Dias apelidou de "saloiice" aquela ideia pré-concebida de preservar todo e qualquer edifício, ainda que tenha 100 anos, já que são muitos os casos em que não têm qualquer valor patrimonial e/ou arquitectónico (e aqui lembrei-me disto e disto, ou seja, uma moradia dos anos 40/50 pode ser de preservar e um edifício com 100 ou mais anos pode não ter interesse algum). Ainda assim, o Arquitecto fez uma clara destrinça entre a qualidade da construção no Porto e em Lisboa (a nossa substancialmente melhor) no que se refere ao edificado dos finais do sec. XIX e princípios do sec. XX.
Estas considerações, que parecem não ser muito motivadoras para quem abraça um projecto de reabilitação urbana, como são os casos de Lisboa e Porto (aqui num estado mais avançado), não podem, nem devem, fazer esmorecer ou recuar os protagonistas de tal empreitada. Bem pelo contrário! Quanto maior o desafio, tanto maior o aliciante!
Eu acredito na reabilitação da "Baixa"! Acredito e aposto nela!
Sei bem que a tarefa de recuperação é hercúlea, porque árdua e difícil... afinal, foram anos a ver a alma e a vida desta cidade a mingar, a definhar, a desertificar! Eu sei que todo este calvário não é (só) culpa do senhor que actualmente ocupa o cadeirão municipal, até porque tudo isto se explica através da simples teoria da fuga de água: primeiro um furozito, uma pequena ruptura, umas pingas de água que se perdem... depois, já corre um fio de água... mais tarde, já a água sai a jorros... até que se dá a ruptura total e há que intervir a fundo.
Nota: Por manifesta impossibilidade não pude estar no Circuito da Boavista, mas, do que me foi dado acompanhar, podemos globalmente considerar um êxito. Contudo, não alinho, para já, no colectivo de entorses que tal evento provocou (tantos foram os que deram o braço a torcer). Reservar-me-ei para mais tarde, particularmente se a recuperação da Baixa Portuense for um sucesso, como espero e desejo. Aí sim, tirarei o meu chapéu a Rui Rio (em vez da entorse).
Ah! Já agora, Rio também esteve bem aqui.
Correia de Araújo