De: David Afonso - "Feira do Livro"

Submetido por taf em Segunda, 2010-05-24 01:15

1. A APEL adiou para melhor oportunidade a Feira do Livro do Porto porque preferiu alargar por mais alguns dias a feira em Lisboa. Isto só acontece porque o modelo deste evento secundariza o Porto relativamente à capital, onde se realizará a verdadeira feira, sendo a nossa feira uma extensão desta. Já estivemos pior, pelo menos não coincidem no calendário, mas não há uma estratégia específica para a Feira do Livro do Porto. E isso paga-se caro. Há muito que defendo que o principal acontecimento do Livro a Norte deveria colocar-se estrategicamente em Dezembro, junto ao Natal, porque esta é uma época de grande consumo e não terá qualquer concorrência a nível nacional concentrando sobre si toda a atenção do sector livreiro, da comunicação social e do público. Tal não impede que se continue a realizar a Feira de Livro de Verão na actual lógica de extensão subsidiária de Lisboa. Temos espaço para as duas, sendo que a Feira de Livro de Inverno deveria assumir-se como a principal.

2. A proposta da APEL de deslocalização da Feira do Livro para Rotunda da Boavista percebe-se bem porque os Aliados não têm condições para este tipo de eventos: não há sombra, a disposição dos stands não pode ser a mais eficiente e não garante a segurança dos utentes porque situa-se num separador entre duas vias duplas com tráfego de grande densidade (é pouco recomendável, por exemplo, levar crianças para a Feira do Livro no separador de granito dos Aliados porque, à mínima distracção, a criança arrisca-se a ser atropelada). A Rotunda da Boavista sempre é melhor porque fornece sombra, permite uma circulação pelos stands mais racional e sempre há um maior afastamento relativamente à rua. Não deixa de ser, no entanto, uma rotunda e ainda por cima uma rotunda com graves lacunas no atravessamento de peões por faltarem as necessárias passadeiras. A melhor opção é simples: os jardins do Palácio de Cristal - têm estacionamento próprio, é possível circular à vontade sem correr o risco de atropelamento, têm sombra, o principal equipamento dedicado ao livro e à leitura, dotado de auditório, encontra-se aí (Biblioteca Municipal Almeida Garrett) e esta seria uma excelente oportunidade de estabelecer uma sinapse urbana com o eixo Miguel Bombarda, um dos principais pólos culturais da cidade.

3. É inacreditável o autismo dos livreiros do eixo Clérigos / José Falcão: não obstante a intensa vida nocturna, os horários e a oferta continuam os mesmos de sempre. O caso da Livraria Leitura é ilustrativo: a Livraria do Shopping Cidade do Porto encerra às 23:00 apesar dos corredores vazios do Centro Comercial, mas a Livraria da Rua de Ceuta/José Falcão encerra às 19:00 (!!!!) apesar de às 23:00 a rua estar à pinha de gente.

4. Off-topic: Lá gramámos com o Papa e com o Rallye na Avenida dos Aliados. Sobre isto só duas observações: a) Mais uma vez registo a falta de visão para a cidade por parte do nosso edil. Visão seria juntar os dois eventos num só. E então teríamos oportunidade de ver do que é capaz o Papamóvel; b) Estes eventos têm a vantagem de mostrar que a Praça do Siza não serve mesmo lá para grande coisa. Aliás, os Aliados são um equívoco com o qual temos de viver, Siza apenas o sublinhou.

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David Afonso
quintacidade.com