De: José Silva -"A decisão de TAF e o lobby regional"
(publicado também no Nortugal)
A propósito do artigo «Uma geração balofa e parda» de TAF, proponho novamente o tema lobby pró-desenvolvimento regional.
O Porto foi a cidade líder a nível nacional durante o século XIX. Durante o século XX Portugal foi bicéfalo. Na transição para o século XXI, alguém quer criar uma cidade-estado à volta de Lisboa.
Muitas vezes repetido, a AMPorto tornou-se um centro de serviços, a maior parte deles alimentados pelo Estado (Educação, Saúde, Administração Pública) e sede de grandes empresas com cariz industrial e âmbito nacional, incompatíveis com preocupações de desenvolvimento regional (Sonae, Unicer, Bial, Efecac, Barbosa e Almeida, Salvador Caetano).
O espaço para os mais empreendedores foi-se afunilando, à medida que as sedes e as possibilidades de «networking» se foram reduzindo. Já em 1997 Paulo Azevedo dizia que o Porto não era cidade de futuro para os profissionais ambiciosos. Portanto, caro TAF, migrar para LX é uma hipótese para quem tem formação avançada e gosta de exercitar os neurónios. Apenas fica cá quem a isso é obrigado ou não tem ambição/oportunidade para mais. Repare que António Vilar, José Roquete, Teixeira dos Santos, Miguel Sousa Tavares, Rui Veloso, Rui Reininho, Jardim Gonçalves, Pacheco Pereira, entre outros, começaram cá e partiram para lá.
Outra alternativa é a emigração, contribuindo para a fuga de cérebros que já se verifica em Portugal. Porém, é preciso não esquecer as ilusões relatadas pela Cristina Santos nem esquecer que a subcontratação via Internet altera as regras de jogo. Acho que o melhor mesmo é esperar pela OPA à PT...
Toda a legítima ambição de desenvolvimento regional protagonizada por todos os boggers regionais deveria ser desempenhada pelos eleitos locais. Porém estes estão a tratar do seu próprio futuro, nomeadamente nas comissões imobiliárias... Portanto ignoremos.
O futuro vai passando por cá, mas apenas para aqueles que estão envolvidos em actividades de caracter nacional e internacional. Exemplo: a Ibersol com sede no Porto, tentou comprar a Telepizza. A I2S, também cá sedeada, continua a sua expansão no software para seguros. A Efacec e a Bial são os maiores investidores privados em ID. O IPO Porto foi recentemente considerado um dos melhores. Portanto, vai havendo oportunidades para quem está dentro de uma organização. O futuro não está assim tão deslocalizado. Porém, quem não estiver neste meio e tentar bater à porta para fornecer uma ideia, pedir capital, ou empregar-se, terá inúmeras dificuldades. Em Lisboa já não é assim. Abundam e sempre abundaram oportunidades, embora o sucesso das organizações, talvez por causa das facilidades e abundância de recursos, seja menor... É aqui que se nota a injustiça Norte-Sul...
Estará tudo bem, então ? Não. Os casos de sucesso são excepções. E o melhor indicador de tudo isso é a ameaça de «crash» do nosso património líquido. Por um lado a subida das taxas de juro, por outro a desvalorização do imobiliário recentemente relatado pelo INE para a AMPorto. A OTA, o adiamento do comboio de alta velocidade para Vigo, a não optmimização da logística de Leixões ou a construção de uma central nuclear no Douro, irão valorizar ou ainda desvalorizar ainda mais o nosso património? Estaremos dispostos a pagar por um imóvel N vezes o seu preço de aquisição? O que faremos para inverter o declínio económico da nossa região e do nosso património?
O que fazer? Na minha opinião, cabe a todos aqueles que estão em risco, se mexerem e empreenderem. Concretamente, todos os residentes na AMPorto situados em sectores/actividades não integradas em esferas de negócio nacional ou internacional, isto é, aqueles que servem apenas o mercado local, devem disponibilizar-se para apoiar um lobby pró-desenvolvimento regional. Incluo aqui todos os donos de imóveis, os operadores do «cluster» imobiliário local (arquitectos, promotores, construtores civis) os fornecedores de serviços turísticos (hoteis, restaurantes, bares, discotecas, caves de vinho do Porto), os operadores de transporte e logística (passageiros e mercadorias, rodovia, ferrovia, portuário), os agentes culturais (galerias de arte, artistas plásticos, salas de espectáculo, músicos), os fornecedores de serviços profissionais (consultores, contabilistas, advogados), os fornecedores de serviços de saúde (médicos, clínicas, lares), universitários locais, o sector comercial (tradicional ou shoppings) devem perceber que apoiando financeiramente ou aderindo às ideias veiculadas pelo lobby regional, estarão a assegurar o seu próprio futuro. Todos estes residentes dependem do sucesso económico regional. Se não houver poder de compra regional, o seu futuro escurece, por mais do que uma via. Portanto, este é o caminho.
Assim fica a elite da sociedade civil, os bloggers e respectivos leitores, com o projecto em mãos. Temos que criar um lobby para agregar o desejo de prosperidade e progresso intrínseco à personalidade Portuense. Temos que conseguir federar este denominador comum a milhares de residentes, que actualmente não é representado por qualquer partido ou associação profissional.
Caro Tiago, espero que este texto contribua de alguma forma para as suas decisões pessoais.
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Nota de TAF: Caro José, desde há muito tempo que eu bem tenho tentado fomentar esse lobby (até acho que devia haver mais do que um, conforme os interesses dos intervenientes), mas não tive sucesso até agora. O voluntarismo até aparece, o financiamento é que não... Mas estou sempre disponível caso apareça quem tenha condições de ajudar: Tiago Azevedo Fernandes, taf@etc.pt, 91-6630396. ;-)